
RITA
CALDO
Confio no nevoeiro cerrado
prosseguindo vendada pelo resto do caminho.

[na oficina, em Zebreiros]
Está abafado o ar no escritório. Parece ter absorvido todas as horas que esperei, misturando-as com o pó e a luz quente do sol de final de tarde.
Tudo é cinzento da sujidade acumulada e o chão está gasto onde assenta a cadeira: um linólio maravilhoso formado por quadrados brancos e losangulos pretos, assim:



Aqui nunca ninguém limpou.
Ouço no rádio uma trompete enquanto me apercebo a calma da sujidade, nada muda, o pó é o mesmo e mais (nunca menos).
Sente o vento pela sombra das folhas das árvores que dançam. É um abraço diferente, este do ar sem vento (doce, doce vento), aperta a garganta até não conseguir dizer nada. Ar saturado.
Ganharia uma infeção se agrafasse o dedo com aquele agrafador vermelho (cujas características não deixam de pertencer a um objeto ergonómico e capaz).
Enquanto pondero o que correu mal com os moldes o sol põe-se e deixo de sentir as árvores a dançar.
​
​
Quero ir lá fora.




